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Segundo Karyn Purvis, os pais são muitas vezes responsáveis por ou reagirem em demasia ou por não reagirem de todo às dificuldades que vão surgindo com as crianças. Assim, é importante treinar:

  • Ser firme e impor limites de forma tranquila e gentil; 
  • Saber dizer que não sem se exaltar;
  • Não perder a paciência;
  • Dar oportunidade à criança de re-fazer (ler mais);
  • Elogiar;
  • Usar o sentido de humor.

Em The Connected Child, Karyn Purvis explica como: “Para sua segurança e por vários outros motivos, os pais precisam de criar regras, de estabelecer e impor limites e de tomar decisões sobre a vida familiar. O mundo de uma criança é mais previsível e menos stressante quando os pais fornecem estrutura e uma autoridade consistente”.

REPETIR, REPETIR, REPETIR

A família de acolhimento perceberá rapidamente que o maior truque da parentalidade terapêutica consiste na implementação de uma rotina (ler aqui), na repetição tranquila de regras, no elogio e no redo (ver o vídeo). Sabe-se hoje em dia que a desnutrição, a privação sensorial e a negligência deixam sequelas neurológicas no cérebro das crianças, comprovadas pelos novos sistemas de neuro-imagem. No fundo, cabe à família de acolhimento a tarefa de ajudar as crianças a reprogramar o seu cérebro, o que leva tempo e exige paciência. A repetição de regras ajuda a redireccionar as crianças sem que estas entrem em stress ou sem que se active o modo de fuga do seu cérebro.

ELOGIAR E DIZER QUE NÃO

A maioria das crianças sente vergonha e culpa por não ter permanecido com os seus pais biológicos. Quando os acolhedores optam por apontar sistematicamente os erros à criança, em vez de valorizar aquilo que é especial nela, acabam por reforçar esta vergonha e fragilizar a sua auto-estima, tantas vezes frágil.

Ao mesmo tempo, quando a criança só ouve os acolhedores dizer “não”, isso dificulta a vinculação, pelo que se devem minimizar os comentários negativos ou de correcção. Procure, assim, seguir o conselho de Karen Purvis em The Connected Child e usar o método sanduíche: “A técnica sanduíche envolve rodear uma afirmação correctiva de duas afirmações positivas. Isso garante que envia mais mensagens positivas do que negativas à criança, enquanto permanece claramente na posição de comando. A técnica sanduíche é uma óptima maneira de obter a aceitação de uma criança, mantendo-a optimista”.

REFAZER

Karen Purvis, em The Connected Child sugere uma técnica eficaz, o Refazer: “‘Refazer’ o comportamento é uma componente fundamental deste processo, porque quando em ansiedade as crianças recorrem ao recall muscular (a que os psicólogos chamam de “memória corporal”). A investigação sobre o pensamento de crianças muito pequenas mostra que a memória motora pode superar a memória, pelo que conseguir aceder à memória motora também melhora a compreensão e a memória de crianças e adultos mais velhos. É por isso que os educadores geralmente promovem técnicas de “aprendizagem activas”. Falar, ouvir, tocar e representar são óptimas maneiras de as crianças consolidarem uma nova lição”.

 

DAR ESCOLHAS

Em muitos livros de educação positiva e ao longo deste site defende-se a ideia de que se devem dar escolhas às crianças, dado que isso as torna mais autónomas e evita as célebres batalhas por controlo. Contudo, muitas famílias de acolhimento confrontam-se cedo com o resultado catastrófico de oferecer a escolha e vêem a criança entrar em colapso à sua frente, incapaz de se decidir. Esta sente que não vai acertar na escolha “certa” e o seu cérebro activa o “andar de baixo” (ler aqui), dando-se início a uma birra terrível. Se é este o caso da sua criança procure evitar as batalhas de controlo de outro modo, deixando a criança decidir, mas limitando as escolhas (por exemplo tendo na mesa durante as refeições algo que sabe que a criança vai querer escolher). Comece por escolhas pequenas e com o passar do tempo verá que a criança se vai habituando à ideia e melhorando a sua capacidade de tomar decisões.

CONSEQUÊNCIAS SIMPLES E IMEDIATAS

Por vezes, ajuda se a criança perceber que existem consequências simples para os seus comportamentos. Se houver birra no parque, a família pode tranquilamente vir-se embora com a criança e optar por fazer outra coisa em casa. Não é preciso um grande sermão ou percecionar a ocasião como um castigo, pode-se apenas interromper a actividade quando a birra tem lugar, retomando-se no dia seguinte, lembrando a criança de forma simples: “Se há birra, saímos do parque”.

 

FASES DIFÍCEIS

Nos primeiros meses de acolhimento, quando há dois irmãos, quando as crianças são mais velhas ou em fases normais de regressão (ler aqui) poderá ter dificuldade em implementar consequências (ou ser demasiado rígido e ter para comportamentos como gritar ou até bater). Nas alturas em que as crianças testam é mais importante do que nunca manter a paciência, ser consistente na aplicação das regras e prometer a si próprio que conseguirá encontrar o tempo necessário para criar momentos de lazer com a criança. Nas fases difíceis, experimente tirar meia hora por dia (até pode cronometrar) para brincar com a criança deixando-a escolher a brincadeira e estabelecer as regras. Durante o tempo para brincadeira quem deve decidir é a criança, deixe-a tomar controlo e siga os seus passos. Leia mais aqui (brincadeiras). Verá que isto fará toda a diferença e que, mais do que castigos, recompensas ou sermões, permitirá restabelecer uma relação feliz com a criança.

CUIDADO COM O REFORÇO VARIÁVEL

O facto de não sermos apologistas de castigos, gritar, bater ou grandes sermões não significa que não existam regras e que elas não tenham de ser cumpridas. Uma das coisas a evitar é o reforço variável, ou seja, quando num dia se impõem regras e no outro não, quando num dia as consequências são umas e no dia seguinte outras. É importante, até porque é isto que a criança deseja verificar, que as consequências sejam sempre as mesmas para as mesmas coisas. Esta previsibilidade ajuda a criança a saber o que esperar na sua nova casa. Como afirma Purvis: “Os pais não devem ser nem muito rígidos e controladores, nem permissivos e indulgentes”. Aqui fica o seguinte teste, elaborado por Purvis no seu livro, para ajudar as famílias a verificarem se:

É MUITO PERMISSIVO E INDULGENTE SE…
  • Faz regras e promessas e depois não as aplica;
  • Zanga-se, zanga-se, zanga-se, mas não aplica as regras;
  • Espera demasiado para se impor e depois explode com raiva;
  • Implora à sua criança que coopere;
  • É a criança a quem decide se e quando as coisas serão feitas;
  • Pergunta à criança “Que queres?” com mais frequência do que lhe diz o que deve acontecer;
  • Permite que a criança o/a magoe fisicamente ou a outras pessoas;
  • Costuma fingir que não percebe o mau comportamento ou o desrespeito;
  • Se a criança não tem consequências negativas quando fala mal de si;
  • Se a criança não leva as suas palavras a sério;
  • Se a criança lhe fala com falta de respeito.
É MUITO RIGOROSO E CONTROLADOR SE…
  • Diz à criança “Não” com mais frequência do que o elogia;
  • Diz à criança “Não” com mais frequência do que lhe mostra afecto;
  • Diz constantemente à criança o que fazer e não lhe dá a oportunidade de fazer escolhas ou concessões;
  • Interrompe as expressões de tristeza ou desilusão da criança;

• Ignora ou menospreza o ponto de vista da criança;

• Usa punições, vergonha e insultos para conseguir que a criança faça coisas;

• Não passa uma hora sem encontrar falhas no seu filho/a.

ESTÁ A ALCANÇAR O EQUILÍBRIO CERTO SE…
  • Depois de fazer uma regra ou uma promessa, é capaz de a aplicar;
  • Usa o “poder de fogo” o mínimo necessário para corrigir o mau comportamento. Sempre que possível, usa bondade e a brincadeira para lhe explicar a sua perspectiva;
  • Dá elogios à criança e faz declarações positivas cinco vezes mais frequentemente do que usa declarações correctivas;
  • Vê a criança a fazer coisas bem;
  • Diz várias vezes ao dia, quão preciosa e querida a criança é para si;
  • Deixa a criança decidir entre escolhas;
  • Compromete-se com a criança;
  • Aceita e respeita as expressões de tristeza ou de desilusão;
  • Quando a criança reconhece que os adultos são “o chefe” e que têm a palavra final, mas não tem medo de deles”.