FAMÍLIA E AMIGOS
1. Importante saber
2. Ideias a repensar
3. Como ajudar
Ideias a repensar
«Os acolhedores são generosos e as crianças têm muita sorte»
Estas duas frases geralmente surgem em conjunto e deixam tanto as crianças como os seus acolhedores muito desconfortáveis. Se as crianças tivessem tido sorte não precisariam de ter sido acolhidas. Os acolhedores não são pessoas melhores do que outras ou mais generosos. Há muitas formas de ajudar e o acolhimento é uma delas.
«São só uns doces, que mal podem fazer?»
Se ler as secções Trauma, Negligência e Saúde descobrirá que a institucionalização de uma criança tem efeitos na sua saúde. Aquando da chegada à família, alguns acolhedores vão descrever a energia inesgotável da criança, enquanto outros se preocuparão com a sua aparente apatia. Estudos comprovam que, por exemplo, os valores de histamina se encontram elevados nas crianças que foram institucionalizadas e que, como muitas vezes estas têm dificuldades de auto-regulação, é preciso ter cuidado com o açúcar que ingerem.
Por um lado, os acolhedores têm de se lembrar de dar comida às crianças de duas em duas horas, para que o nível de açúcar se mantenha. Por outro, muitos doces levam as crianças a ficar com um comportamento agitado que quase certamente acabará numa grande birra. Por último lugar, os doces podem ser um instrumento importante de vinculação (leia Alimentação), pelo que devem ser os acolhedores a gerir quando os devem dar.
«Têm de disciplinar melhor a criança»
Os acolhedores precisam de ter na sua caixa de ferramentas a capacidade de fazerem aquilo a que se chama de «parentalidade terapêutica» (ou seja, de serem capazes de se tornar em figuras protectoras para a criança, capazes de ser firmes quando é necessário, mas não castigadores).
Se ler as secções Trauma, Negligência e Saúde descobrirá que o cérebro da criança que foi adoptada pode apresentar diferenças em relação ao de crianças que cresceram numa família amorosa. A parentalidade tradicional não funciona com as crianças que foram adoptadas e adia o processo de vinculação, porque traz ao de cima reacções de medo e trauma.
Lembre-se de que o caminho do acolhimento é uma maratona, não é uma corrida de velocidade. A criança, principalmente se foi adoptada quando era mais velha, vai levar tempo até conseguir ter reacções adequadas, até saber lidar com a frustração ou controlar as suas birras. Informe-se, essa é a melhor maneira de ajudar os acolhedores.
«Os acolhedores são pessoas generosas / Tens muita sorte»
Há comentários que, principalmente quando são ditos à frente das crianças, têm um impacto negativo. Os acolhedores podem ter decidido adoptar por motivos muitos diferentes, mas isso não faz deles à partida pessoas mais generosas ou melhores do que as outras. Este é o aspecto em que tantos os acolhedores como as crianças querem apenas ser iguais a todas as outras famílias.
Uma criança que foi adoptada não teve sorte alguma, caso contrário estaria com a sua família biológica e não teria sofrido o trauma da separação. Estes comentários são muitas vezes ditos para ajudar, mas têm um efeito negativo na cabeça da criança, cujo amor-próprio já é tantas vezes diminuto.
«Porque não me respondes, a criança nem está a ouvir»
Porque os primeiros tempos em família costumam ser intensos, familiares e amigos aproveitam todas as oportunidades para lhes fazerem perguntas. Acontece que as crianças, mesmo quando parecem estar distraídas, estão geralmente a prestar mais atenção do que se pensa. Assim, evite colocar acolhedores e crianças numa posição difícil e não faça perguntas ou comentários quando elas estão presentes.
Os acolhedores devem aproveitar estas ocasiões para elogiar a criança, e não para a criticar, isso melhorará a relação entre todos.
«Tem seis anos, mas parece ter quatro»
Muitas famílias fazem o erro de assumir que a idade cronológica da criança e a sua idade emocional ou o seu desenvolvimento são iguais. Eileen Mayers Pasztor, uma mãe adoptiva, assistente social e que recebe crianças em acolhimento familiar, desenhou um puzzle, para procurar compreender melhor a idade real das crianças com quem contacta. Ajuda se a família alargada e amigos aprenderem a identificar (e a agir consoante) a idade de desenvolvimento e emocional da criança e não da sua idade cronológica (que é muitas vezes enganadora). Saiba mais.